Resultado alterado pode indicar inflamação ou infecção
Da família dos flavivírus (vírus de RNA fita simples), o agente etiológico de uma das nossas arboviroses, o vírus da dengue é capaz de causar uma das doenças virais mais perigosas e comuns em humanos transmitida por mosquitos. Todos os anos, ocorrem mais de 400 milhões de casos de dengue no mundo e 22.000 fatalidades. Essa foi documentada em climas tropicais e subtropicais em mais de 100 nações. Infelizmente, não há uma abordagem terapêutica específica, mas a prevenção, a conscientização adequada, o diagnóstico nos estágios iniciais da infecção viral e o atendimento médico adequado podem reduzir a taxa de mortalidade.
Os humanos são infectados principalmente com quatro sorotipos de Dengue Vírus (DENV 1–4) através do mosquito Aedes aegypti. Epidemias generalizadas podem ser causadas por qualquer um dos 4 sorotipos, colocando cerca de 40% da população mundial em risco de infecção.
Os sintomas da dengue são divididos em fases:
Fase febril:
A febre é a primeira manifestação, tem duração de dois a sete dias, geralmente alta (39oC a 40oC). É associada a cefaleia, adinamia (fraqueza), mialgias (dor muscular que afeta os tendões), artralgias (dor nas articulações) e à dor retro-orbitária (dor nos olhos). Anorexia, náuseas e vômitos podem estar presentes, assim como a diarreia, cursando com fezes pastosas, o que facilita o diagnóstico diferencial com gastroenterites por outras causas. O exantema (manchas no corpo) ocorre aproximadamente em 50% dos casos, atingindo face, tronco e membros de forma aditiva, incluindo plantas de pés e palmas de mãos. Após a fase febril, grande parte dos pacientes se recupera, entretanto alguns paciente evoluem para outras Fases da doença.
Fase crítica:
Pode estar presente em alguns pacientes, podendo evoluir para as formas graves. Tem início com a diminuição da febre, entre três e sete dias do início da doença. Os sinais de alarme, quando presentes, surgem nessa fase da doença. A Fase crítica pode se dar de três formas:
– Dengue grave:
As formas graves da doença podem se manifestar como choque em função do severo extravasamento plasmático. O derrame pleural e a ascite podem ser clinicamente detectáveis. O extravasamento plasmático também pode ser percebido pelo aumento do hematócrito, pela redução dos níveis de albumina e por exames de imagem. Trombocitopenia (Redução da quantidade de plaquetas), febre, sangramento espontâneo e extravasamento de plasma são as marcas registradas da dengue hemorrágica.
Para que seja diagnosticada como Febre Hemorrágica da Dengue, quatro sinais clínicos devem estar presentes. Estes incluem: (1) febre; (2) episódios hemorrágicos acompanhados por pelo menos um dos seguintes: petéquias (Pequenas manchas vermelhas), equimoses (lesão na pele), púrpura; ou sangramento de mucosas, trato gastrointestinal, locais de injeção ou outras áreas; (3) extravasamento de plasma devido ao aumento da permeabilidade capilar; e (4) trombocitopenia.
– Dengue grave com síndrome de choque hipovolêmico:
A Síndrome do Choque da Dengue é a forma mais grave da dengue e é caracterizada pela presença de todas as quatro manifestações clínicas da febre hemorrágica da dengue, juntamente com insuficiência circulatória. O paciente deve apresentar todos os três sinais de insuficiência circulatória: pele fria, juntamente com estado mental alterado, pressão de pulso fraca ou hipotensão em relação à idade do paciente e pulso rápido e fraco. Ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido por meio do extravasamento ou sangramento, o que geralmente ocorre entre o quarto ou quinto dia de doença, com intervalo entre o terceiro e sétimo, geralmente precedido por sinais de alarme. O período de extravasamento plasmático e choque leva de 24 a 48 horas.
Referências
-
WHO. DENGUE: Guidelines for Diagnosis, Treatment, Prevention and Control – New Edition. WHO, Geneva, Switzerland (2009).
-
Tang KF, Ooi EE. Diagnosis of dengue: an update. Expert Rev Anti Infect Ther. 2012 Aug;10(8):895-907.
-
Wilder-Smith A, Ooi EE, Horstick O, Wills B. Dengue. Lancet. 2019 Jan 26;393(10169):350-363.
-
Muller DA, Depelsenaire AC, Young PR. Clinical and Laboratory Diagnosis of Dengue Virus Infection. J Infect Dis. 2017 Mar 1;215(suppl_2): S89-S95.
-
Pourzangiabadi M, Najafi H, Fallah A, Goudarzi A, Pouladi I. Dengue virus: Etiology, epidemiology, pathobiology, and developments in diagnosis and control – A comprehensive review. Infect Genet Evol. 2025 Jan;127:105710. doi: 10.1016/j.meegid.2024.105710. Epub 2024 Dec 26. PMID: 39732271.
-
Dengue : diagnóstico e manejo clínico : adulto e criança [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Doenças Transmissíveis. – 6. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2024. 81 p.: il.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dengue_diagnostico_manejo_clinico_6ed.pdf ISBN 978-65-5993-577-2